terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Esses que apelidam de lenda

Dizia há muitos anos atrás, nesse tempo em que muitos de nós éramos nada, Jacqueline Kennedy "Agora é uma lenda, mas teria preferido ser um homem". Talvez Lance Armstrong tenha, por fim, desejado ser apenas um homem, de carne e osso, abandonando essa pele de lenda que lhe vestiram. Muitos de nós continuaremos a desejar que ele seja essa lenda, que não seja homem, que seja O homem que transformou o impossível em possível, que seja o tal que, inacreditavelmente, conseguiu o que nenhum homem outrora conseguira, que seja esse em que se busca a tal característica física ou psicológica que faz dele um ser especial, uma lenda. 

Muitos de nós desejam manter a crença de que ele é uma lenda, acreditando que a mentira é verdade e que se ele agora faz uso da verdade está, na verdade, a mentir, porque acreditar é mais fácil. Queremos que ele seja uma lenda, porque as lendas alimentam, as lendas movem, as lendas inspiram. Queremos que ele seja uma lenda para acreditar que afinal aos Homens basta o esforço e a motivação para alcançarem o inalcançável. Queremo-lo porque nada o derrubou no caminho, nada o fez derrubar-se, nem mesmo isso que chamam de cancro. E porque são esses, e não outros, que no fim do seu tempo fazem do tempo de todos os outros que lhe seguem seu tempo também. Perduram, infinitamente, para lá do relógio que a condição humana impõe. Todos querem ser esse homem.

As acções fazem o homem e as lendas criam-se fruto dessas acções. Não sabemos em que verdade acreditar. Em determinados momentos parece errado não acreditar que um entre muitos homens é perfeito. Como parece ser igualmente errado acreditar que há quem o possa ser. 

3 comentários:

  1. Excelente Paula! O segundo parágrafo resume o sentimento de quem ainda depositava alguma esperança.

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  2. Excelente! O importante são as acções!
    Apesar de tudo, um acto de muita coragem (a verdade)!!!

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