quarta-feira, 8 de maio de 2013

Lisboa vestida de cinza


Sempre tive uma paixão secreta por Lisboa. Em tempos ansiei habitá-la. Tive essa ânsia de capital, de ser parte dessa massa de gente que se atropela rua fora, sem entender muito bem que motivos se escondiam nesse desejo. Hoje enquanto a calcava e a olhava pelos vidros do carro, Lisboa pareceu-me gasta. Talvez esteja, à semelhança de tantas outras capitais deste mundo. Talvez seja a ausência de sol que não lhe é própria. 

Gosto-lhe, confesso. Ser grande dá-lhe caracter, enche-a de personalidade. Sinto, porém, falta disso que chamam de 'gentes', do calor que as pessoas do Porto emanam naturalmente. Sinto falta, inclusive, dos palavrões atirados 'à boca cheia'. Já não basta esta luz hipnótica de fim de dia. 

Sou uma mulher enamorada por Lisboa. Sinto-a sempre como se fosse uma dessas paixões arrebatadoras que se querem saciar imediatamente. Mas deixo sempre o coração no Porto.  E aos grandes amores convém escapar-lhes de quando a quando, para que sintam a acidez da ausência. Escapo-lhe para lhe sentir saudade, porque voltar a um grande amor é sentir tudo como se fosse a primeira vez, sabendo antecipadamente o quanto se gosta. 

1 comentário:

  1. lindo.... tens as palavras que por vezes nos fogem...

    marisa silva

    ResponderEliminar