sexta-feira, 9 de setembro de 2011

despedida

Trazia aquele perfume. Inebriante. Perfume de dejá vu. Perfume do corpo que carregava aquele vestido vermelho atrevido nos seus movimentos de seda fina que roça a pele e me atormetava a racionalidade de macho seguro. Perfume do dia em que cravaste os olhos nos meus e me fizeste presa. Perfume que carregaste no dia em que te despediste de mim, levando-me, porém, contigo. Sabe-lo-ás?

O pôr-do-sol a deixar-te em contraluz, a tua silhueta leve a arroubar-me os sentidos, envolvidos por aquele laranja quente de fim de tarde de Verão. Não tínhamos palavras. Na verdade, não existiam palavras certas, suficientemente profundas ou esclarecedoras que pudessemos usar. Deixámos apenas que o som das gaivotas naquele longe tão próximo e o roçagar da água fossem o todo que desejávamos reter. Os teus dedos entrelaçados nos meus, amarrados, receosos; o sorriso frágil banhado pelo poente dizendo-me adeus; os olhos mergulhados de tristeza a cravarem-se-me no peito. Evitámos o abraço, como forma de evitar as lágrimas, como meio de evitar o buraco que inevitavelmente se abriu ali.

Dias houve em que tudo quanto ansiei  se resumia a ver-te longe. De mim, da minha memória, dos meus sonhos, dos meus tormentos e dúvidas. Dias houve em que tudo quanto representaste não foi mais do que uma dor que se atravessava insistentemente no meu caminho. Esquecemos continuamente que a cedência do corpo é mais do que uma cedência carnal, que separar o eu racional do eu emocional é falha humana instituída e incontrolável. E sabendo à priori que a saudade se acercaria de mim como uma carraça, permiti-te.

O perfume. O teu perfume rodopia ininterruptamente entre estas árvores, na língua do sol, na brisa que as asas das gaivotas fazem correr. Pessoas há que jamais partem. Nem o tempo nem a vida as levam. Continuam presas entre as artérias, entre os dedos, entre os lábios, no tronco e em cada parcela que nos tenha deixado.

4 comentários: