Na
vida dela havia apenas esquecimento. Empurrava uma memória atrás da outra para
um saco sem fundo como se se prendesse num baloiço e se deixasse empurrar
fortemente, esticando os pés contra o céu e a cabeça a roçar a areia. Esse
desejo de ser criança colado ao corpo de mulher enquanto corria estrada fora,
empurrando com os punhos uma memória atrás da outra. Corria cada vez mais veloz
como se a quase ausência de forças a colocasse numa outra realidade, ausente de
pensamentos. As cidades que haviam percorrido de mãos entrelaçadas a
esfumarem-se. Expectativas. As expectativas primeiro. O esquecimento depois. O
processo. A ausência de um processo.
Ele
voltava sempre que ela o havia esquecido. Os sentimentos borbulhavam dentro de
si e ela corria para não o encontrar à chegada, perdida para dentro do seu
silêncio angustiado. Há um silêncio desconcertante na morte. Essa ausência
galopante que se aproxima mais rápido do que os passos da corrida, essa dor
tenebrosa sem ferida aberta, saída de tudo quanto é corpo. Enfim, esse vazio
ríspido de navalha afiada que um corpo em corrida pelo esquecimento sempre encontrará
à chegada.
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