sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

ela

Vou acreditar que é apenas uma fantasia. Vou acreditar porque acreditar é a única justificação que consigo dar-me para que o faça. Parece-me uma loucura. É essa a única certeza que tenho, a de que estou louca ou pareço estar louca para continuar sem que encontre qualquer fundamentação para o ter feito, para o querer continuar a fazer. Há algo que me prende. Como se me colasse àquele espaço, àquele momento e não tivesse a mínima vontade, não fizesse o mínimo esforço de recuar, de sair, de parar. Aconteceu por acaso. Um mero acaso que não sei explicar. Surgiu apenas. Deixei que surgisse, deixei que se prolongasse, deixei que acontecesse.  

Tudo é diferente. Inexplicavelmente e sedutoramente diferente. O toque é diferente, os contornos são diferentes. Tudo ali é suave. Os lábios, a pele, os movimentos, a linha do corpo, o deleite dos seios, a forma como os dedos descem pelo peito, como se demoram, como quase me tocam a alma. Eu deveria sentir falta de algo, de tudo. Deveria sentir falta da rudeza, da masculinidade, da firmeza. Mas senti-a ultrapassada por um prazer que não sei explicar, que parecia dobrar, que se enrolava entre os contornos da língua. Um desejo inexplicável a atravessar-me e eu perdida nessa sensualidade de corpo de mulher. Eu não sei que atração é esta pelo desconhecido que, na verdade, é o meu corpo em duplicado. Porque razão me sufoca esse cheiro de flor no pescoço frágil dela. Porque razão me perco entre os cabelos longos dela. Porque razão me sinto baralhada e simultaneamente plena nas suas mãos. Consome-me esta estranheza, esta ausência de necessidade do homem, do corpo masculino, esta vontade dela, do corpo feminino. 

Eu não tenho de perceber tudo. Eu não preciso ter todas as respostas. Eu tenho apenas de as querer procurar.  Tenho apenas de ouvir o que o meu corpo tem para me dizer. Um passo a seguir ao outro. A resposta há-de chegar.

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