quarta-feira, 1 de junho de 2011

pretérito imperfeito perfeito

Colocou os pés no solo do centro histórico e inspirou. Um cheiro a rosas, ainda a desabrochar, inundava o ar da cidade, contrastado com o repucho de água, que quase realistamente libertava o ar saturado do calor próprio de Agosto. Mulheres de guarda-chuva ocupavam os bancos de madeira dispostos em torno da pequena fonte, vigiadas pela imponente Sé, estrategicamente erguida no ponto mais alto da cidade.

A vida não tinha limites, não tinha fronteiras, não tinha uma cultura preestabelecida, não tinha um padrão social, um trilho demarcado. A vida era uma estrada sem sentido único, repleta de cruzamentos, chegadas e partidas. A vida era cheiros que recordavam lugares, lugares que despoletavam pessoas, pessoas que carregavam cheiros. A vida, a vida dela era assim. Vivências coladas à sola das sapatilhas, amores pastilha elástica, um mapa repleto de circunferências, um arquivo de histórias que a memória desconhecia já onde guardar.

São dias conjugados no pretérito imperfeito que se penduram no presente como dentes que se cravam na pele. Memórias envolvidas em saudade que o sorriso não esconde e a calçada reflecte. É ela, a sua velhice e uma aldeia escolhida para o sempre que lhe resta.

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