Não
te admires por ter fugido. Isso pertencia a ti e não a mim, é certo. Está-te
nos genes surpreender-me com desfechos inesperados e inoportunos que me façam
desejar o suicídio ao invés da dor de te perder vezes sem conta. És um cabrão,
sabes. Talvez seja por isso que te amo. Não. Talvez não. É exactamente por isso
que te amo. Soube-o no exacto momento em que te vi e foi precisamente isso que
fez com que me atirasse sem paraquedas contra ti. Adoro cabrões por saber que
trazem em si o amor explosivo, mesmo sabendo que são uma partida certa.
Nunca
te soube meu. Quando achava que o eras mostravas-me logo que não. Raios.
Acordar todos os dias com essa incerteza a encher-me o peito, essa incerteza de
não te saber meu, esse receio de que a qualquer minuto do dia desaparecesses
por completo quase me matava. E, no entanto, nunca me senti tão viva. Nunca o
coração me pareceu tão acordado nem os sentimentos tão despertos. Por isso tive
de te fugir. Antes que fosse tarde demais.
Cheiro
a ti, sabes. Tenho a impressão de que ficaste impregnado nas minhas mãos, de
tanto te ter tocado, pela forma como te abraçava contra mim para que não
partisses. Raios, o teu cheiro deixa-me louca. Não deves entender tudo isto. Quiçá
entendas. Não me importa se entendes ou não. Na verdade, importa-me. Queria ficar-te
colada na pele. Queria que todo este eu, o meu cheiro, os meus cabelos ficassem
nesse quarto, que jamais desaparecessem, que inundassem o espaço de cada vez
que colocasses uma outra mulher sobre esses lençóis onde fomos. Sei que me
amas. Amas profundamente, mas tens medo de me amar. Não deverias ter medo. Eu precisava
que não tivesses medo para não ter de fugir de ti. Mas é tarde demais.