Fotografia: Felipe Rocha |
Não
são necessárias palavras robustas para se falar de saudade. Às vezes penso
naqueles dias cinzentos carregados de nevoeiro, que exigem que liguemos os
mínimos logo pela manhã para que possamos ver meio metro de estrada, para saber
que a saudade é isso. Um lusco fusco num caminho com tanto para trás que
queremos voltar a colocar à frente.
Tenho
caminhado pela cidade na tentativa de me adaptar às novas cores, de inalar este
cheiro novo, de me sentir eu aqui, mas é a minha rua que me cobre a retina. Nos
prédios altos vejo as casas de baixa estatura, de janelas abertas para deixar
entrar o sol e a roupa lavada estendida no alto. Nas pessoas que correm por
este caminho, sem nunca pronunciar um olá ou um sorriso, vejo os rostos da
minha aldeia carregados de modéstia e desejo de nos cumprimentar.
A
vida já não é a mesma. Não é. O meu coração continua naquele aeroporto, preso
aos últimos abraços, preso à angustia da partida. Julgo que nunca parti. Ainda
percorro a calçada meia atrapalhada nas pedras incertas, com o cheiro a mar ali
tão perto e aqueles que se amam ainda mais perto. Mas ainda tenho os sonhos e
embrulhar-me neles dia fora sabe ao som das palavras que me enchem a vida.
É.
Parece que nada mudou. Sei que a minha mãe - que saudades - está a cozinhar bacalhau porque é
Segunda-feira, o meu pai - que saudades - está sentado em frente a ler o jornal e a ouvir o
Preço Certo na televisão e o meu sobrinho - que saudades - corre de um lado para o outro,
pronunciando coisas que ninguém entende, mas aos quais todos sorriem. Haverá
mais gente depois do jantar. Os meus irmãos - que saudades -, os restantes sobrinhos - que saudades - numa confusão
de uma ensurdência quente. Eu chegarei a casa dentro de momentos, quando já
todos começaram a jantar e esperam a minha buzina para me abrir a porta da
garagem.
Esperem
só um pouco. Não tarda nada estarei à porta.
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