Tinha os olhos vermelhos de chorar. Era madrugada e nos corredores apenas se sentia o silêncio. Pesado. Frio. Tão pesado que entrava pelo quarto e parecia sufocá-lo. Aquele silêncio que respirava noite dentro e se depositava no seu corpo dia fora. Já nada o prendia à vida. Aquela ausência de palavras de quem já nada parece ter para dizer, de quem apenas parece esperar, invadia o lar como uma doença crónica. É o silêncio de quem espera a morte, de quem anseia vê-la chegar pela porta principal e o leve ao colo sem necessidade de gentilezas, de um “por favor, acompanhe-me”.
As conversas esgotaram-se no momento em que lhe deram a mão e o guiaram até àquele espaço, vazio de si, vazio de memórias, vazio de vida, deixando as palavras presas na casa que viu a mulher partir e o homem devastado. Estava escondido naquele pedaço de tijolo e cimento morto de fé.
Um corpo feminino e apenas aquele corpo feminino, gasto pelo tempo e pelas histórias, o mantinha preso aos dias. Como um copo de sol que alimenta a alma, observava-a enquanto balançava o corpo na cadeira de verga numa varanda cheia de corpos parados. Movimentava-se ao ritmo da brisa, de meio sorriso na face, como se escutasse as palavras que o seu peito lhe dizia, como se somente o seu corpo ali se encontrasse. E, de repente, fazendo jus ao inesperado olhava-o de soslaio e sorria largamente. Ele corava na sua timidez de velho, sentia o coração de terceira idade bater e perdia-se na face enrugada dela.
É insane, é perene, é loucamente impossível, parece-lhe. E é incontrolável, é poderoso, é repleto de prazer, é incansável, é o escape perfeito dos dias que lhe cortam a carne. É um todo preso em dois corpos que não sabem como se resistir, como medir a vontade, como atirar o querer do cimo do corpo e pisá-lo. Aquele mesmo sonho, aquela mesma vontade, repetida a cada noite e repassada a cada manhã. Tão constantemente, tão insistentemente, que a realidade e o sonho acabaram misturados num pote de reminiscências e desejos injectados de insanidade e toques recalcados. Ele tem de lhe tocar, de a sentir, de a abraçar, de lhe dizer seu. Para que a morte lhe saiba amarga, para que a vida lhe pareça perene, para se sinta morrer se não a vê. Para que, enfim, viver seja mais do que a simples existência.
As conversas esgotaram-se no momento em que lhe deram a mão e o guiaram até àquele espaço, vazio de si, vazio de memórias, vazio de vida, deixando as palavras presas na casa que viu a mulher partir e o homem devastado. Estava escondido naquele pedaço de tijolo e cimento morto de fé.
Um corpo feminino e apenas aquele corpo feminino, gasto pelo tempo e pelas histórias, o mantinha preso aos dias. Como um copo de sol que alimenta a alma, observava-a enquanto balançava o corpo na cadeira de verga numa varanda cheia de corpos parados. Movimentava-se ao ritmo da brisa, de meio sorriso na face, como se escutasse as palavras que o seu peito lhe dizia, como se somente o seu corpo ali se encontrasse. E, de repente, fazendo jus ao inesperado olhava-o de soslaio e sorria largamente. Ele corava na sua timidez de velho, sentia o coração de terceira idade bater e perdia-se na face enrugada dela.
É insane, é perene, é loucamente impossível, parece-lhe. E é incontrolável, é poderoso, é repleto de prazer, é incansável, é o escape perfeito dos dias que lhe cortam a carne. É um todo preso em dois corpos que não sabem como se resistir, como medir a vontade, como atirar o querer do cimo do corpo e pisá-lo. Aquele mesmo sonho, aquela mesma vontade, repetida a cada noite e repassada a cada manhã. Tão constantemente, tão insistentemente, que a realidade e o sonho acabaram misturados num pote de reminiscências e desejos injectados de insanidade e toques recalcados. Ele tem de lhe tocar, de a sentir, de a abraçar, de lhe dizer seu. Para que a morte lhe saiba amarga, para que a vida lhe pareça perene, para se sinta morrer se não a vê. Para que, enfim, viver seja mais do que a simples existência.
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